Stupid Cupid - Prólogo


Justin
Qualquer coisa que possa ocorrer mal, acredite, ocorrerá mal.

Eu estava ansioso. Depois de algumas brigas familiares, essa era a primeira vez em que toda a família - os vivos, pelo menos - estariam reunidos no Natal. E na minha casa. Não era um sentimento que eu desejava ter no dia 24 de estar preparado com o número da polícia e da emergência em letras grandes na geladeira, certamente não. Mas meus pais queriam juntar todo mundo, mesmo que isso pudesse causar prejuízos de vasos de plantas, copos e etc. E, bom, provavelmente causaria. A casa já estava toda decorada e isso me tranquilizava um pouco. Oficialmente, Natal é minha data preferida do ano.

Desci as escadas devagar, observando meu pai tentar roubar os biscoitos do balcão e minha mãe dando tapas nas mãos dele, e Jasmyn e Jaxon correndo com bastões de doce pela sala. Ao fim dos degraus, fui cercado por meus irmãos que corriam ao meu redor enquanto riam e eu sorri na direção deles, identificando uma típica música natalina tocando. Faltavam poucos minutos para o horário marcado e eu ficava checando a cozinha e a roupa toda hora, porque o meu tio e a mulher dele sempre cismam de implicar com alguma coisa. E quando eu digo ''alguma coisa'' na maioria das vezes, isso quer dizer ''eu''.

Mordia o canto interior da boca, sentado nos bancos giratórios do balcão na cozinha e minhas mãos batucavam uma melodia de uma música da qual não me lembrava o nome quando ouvi o típico barulho de campainha transpor a voz da Mariah. Desviei o olhar para a porta e então para meus pais, que faziam o mesmo. Acho que não era o único nervoso.
- Eles chegaram.

  . . . 
- Pelo menos eu não me casei diversas vezes.
- É, não casou diversas vezes mas foi amante do próprio ex-marido.

Pronto, agora era só questão de tempo até ser necessário chamar a polícia. Meu Deus, ninguém naquela bendita sala conseguia passar quatro horas sem alfinetar nem jogar intriga para cima de ninguém? Mas que saco. Será possível que nem as boas energias do Natal contagiam esse povo?
Larguei os talheres no prato e apertei minhas têmporas com os indicadores. Eles discutiam entre si, cada um provocando o outro para se defender mas, agora tudo não passava de ecos para mim. Eu sentia uma leve vertigem, e voei para longe por mais alguns minutos, mas tudo foi voltando quando minha avó falou:

- E então, Justin, quando vai trazer aquela ruivinha para cá? - impressionantemente, todos pararam de brigar e me encararam, esperando que eu respondesse, mas eu não conseguia. Estava quase engasgado com o ar e tudo que eu conseguia pensar era ''o quê?''
- Q-que ruiva?
- Ham.. Como assim que ruiva, Justin? Aquela que você estava saindo. - minha tia se intrometeu. Mas foi até que bom, porque consegui me lembrar dela. Mas algo no fundo do meu coração dizia que seria melhor que eu não respondesse.
- Hm, tipo, eu não estou mais saindo com ela. 
- Era de se esperar, essas crianças de hoje em dia nunca estão satisfeitas com o que tem, sempre querem ficar trocando e.. como dizem, hoje? ''Pegando'' todo mundo. Essa geração está perdida. - fala isso porque teve oito namorados entre quinze e dezessete anos né, tia?
- Bom, foi a sua geração que nos criou. - sorri apoiando o queixo com a mão e o queixo da minha mãe e da minha tia foram no chão. Já estou cansado disso, da minha tia reclamando ''ah, essa geração não se importa com nada'', ''ah, na minha época, tínhamos pensamentos revolucionários e não essa coisa de Itody. '' Era um saco. 

Se somos ''bonzinhos'', somos tachados de fracos que não tem nenhuma causa para lutar, que apenas vivemos enfurnados em computadores e livros, - sim, ela reclama até dos leitores do mundo - se aproveitamos a vida e lutamos pelo que acreditamos, somos rebeldes sem causa, vândalos... Urgh, isso me deixa possesso. E o fato de ter que forçar um sorriso e fingir que concordo é terrível. 

- Mas Justin, se você estava namorando com ela, é para levar à sério. Você tem que casar com a menina, não ficar trocando de tempos em tempos. -  e pronto... Quem faltava se intrometer, acabou de fazê-lo. Apresento-lhes, Carl, a criatura mais fanática que nunca desejaria conhecer em toda minha vida. 
- Eu nem cheguei a namorar com ela. - me defendi, dando de ombros e a mesa explodiu em expressões de surpresa. Revirei os olhos mentalmente. 
- Isso aconteceu com aquela loira em 2012, com as três morenas em 2013, com aquela garota super alta, com a de seios enormes - prendi o riso lembrando de Kylie -, com essa ruiva agora  e com tantas outras garotas que já vimos você com, Justin. Não acha que está exagerando um pouco? Por que não sossega com uma menina legal, recatada, de bons princípios?

Porque eu quero me divertir, não me tornar padre.
- Porque estou tentando achar a garota certa. - forcei um sorriso e respondi simplesmente. Travei o maxilar enquanto bebia um pouco do refrigerante. 
- Vai ver que ele está procurando por algo que garotas não tem. - meu avô falou rindo fraco e todos o fitaram subitamente, assim como eu, que quase esguichei refrigerante na cara da Jasmyn do outro lado da mesa. O quê?
- O-o que você quer dizer com isso? - perguntei com a voz falha, com receio de que ele dissesse o que acho que ele iria dizer. Não, meu avô não estava insinuando que eu era...
- O garoto não consegue se satisfazer com uma garota porque o que ele gosta mesmo é de garotos. - okay, acho que até o planeta parou de girar nesse momento. Todos ficaram estáticos, se entreolhando e olhando para mim, e seus olhares esperando que eu ''saísse do armário'' fizeram meu rosto pegar fogo.

- Olha lá, ele está até corado. - minha avó Amelie apontou para minhas bochechas e eu gostaria de poder me transformar em uma formiga e sumir dali. Mas me surpreendi quando ouvi as risadas altas se misturando nos meus ouvidos, todos estavam rindo. Não era um riso debochado, era... Um riso amigável, como se por um momento tudo estivesse bem e ninguém quisesse meter a faca de cortar o perú no coração de ninguém. Eu sorri de lado, ainda constrangido, mas até um pouco feliz por isso ter feito eles pararem de gritar.

. . . 

Deviam ser umas três e pouca da manhã, todos já tinham ido dormir e eu estava arrumando a bagunça de papéis de presentes rasgados pelo chão.
- O Papai Noel vai te deixar carvões se você ficar acordado. - quase pulei de susto e olhei para trás, minha mãe ria baixo da minha reação. Sorri fraco e continuei pegando os embrulhos.
- Acho que fazia um ano que Willow não dava um abraço em Amelie - comentou com uma voz suave e um pouco sonolenta. Murmurei em resposta e fui até a cozinha, jogando tudo no lixo e voltando devagar para a sala. Me joguei no sofá com um resmungo. E todo mundo só foi deixar suas diferenças de lado e comemorar o Natal depois de me zoarem por eu não querer sair do armário. Agora me diga, como sair do armário se nem no armário eu 'tô?

- Você viu o quê o vovô disse? - quebrei o silêncio que tinha se formado. Eu estava de bruços, com a cara enterrada entre os braços - Ele quer que eu apresente meu namorado ou ficante. Qual é... Eles estão achando que eu sou gay. E se continuarem achando, daqui a pouco Andrew vai começar com aqueles sermões ridículos de que ser gay é errado. - emburrei, apenas com os olhos aparecendo. Minha mãe riu.
- Pense pelo lado bom... - ela falou, com um sorriso de lado, e então fez ''mãos de jazz'' e sorriu completando a frase e me fazendo resmungar mentalmente ''maldita lei de Murphy'' - Eles não estão mais brigando.

2 comentários:

  1. Respostas
    1. Que bom, fico feliz que tenha gostado <3
      Obrigada. Irei sim, já 'tô escrevendo o primeiro cap. ^^

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